domingo, 5 de setembro de 2010

Corinthians, Itaquera e a hipocrisia da burguesia paulistana

Burguesia é uma palavra fora de moda. Bem fora de moda pra falar a verdade. Uma coisa assim meio comunista, meio adolescente né? Também achei, mas não consegui encontrar outra palavra que pudesse ilustar isso melhor.

Antes de dizer o que eu penso, vou tentar explicar melhor o que é Itaquera. Ao contrário do que muitos pensam, não é lá fim do mundo. Sim, existe vida além da Berrini gente. Acreditem! O que mais me impressiona é ver muita gente falando mal de Itaquera sem nem mesmo ter ido lá uma vez. “Ah, é muito longe”. Londe de onde cara pálida? Para mim longe é a Vila Olímpia. “Ah, só tem bandido”. Onde não tem bandido? Lá tem sim é muito trabalhador. Ou o que vocês acham que as pessoas que lotam a linha vermelha do metrô e a linha coral da CPTM todo dia pela manhã vão fazer o que? Roubar?

Não. Eu não moro em Itaquera. Mas por ter nascido e me criado na Zona Leste, me sinto ofendido também quando falam mal de lá. Aliás, Itaquera é uma das regiões mais populosas de São Paulo. O que faz dela alvo preferncial dos políticos. Em época de campanha eleitoral tenho a impressão de que todos os problemas lá serão resolvidos. Mas poucos foram os que ousaram fazer algo concreto por Itaquera. Os que fizeram nunca mais ocuparam um cargo de expressão. Juro que não cosigo entender o motivo. Na verdade até acho que sei, o mesmo motivo que fez a burguesia hipócrita esperniar pela localização da arena paulista para a Copa do Mundo de 2014.

A Zona Leste não é, ao contrário do que muitos que moram por aqui apregoam, uma região esquecida. O poder público não esqueceu dela em nenhum momento. Muito pelo contrário. Mas há hora certa para se pensar e se fazer algo por ela. Próximo às eleições e só. Digo isso com conhecimento de causa. O preço político de deixar de investir em algo nas regiões mais ricas da cidade para ivestir na Zona Leste é alto.
Luiza Erundina que o diga. A única prefeita que conseguiu inaugurar seis, nada menos que seis, hospitais em quatro anos (antes dela haviam apenas nove) e que fez o transporte público funcionar bem na periferia, não conseguiu eleger o seu sucessor. Marta Suplicy, que fez, se não me engano, quatro Céus na Zona Leste (com piscina, teatro e cinema) e reformou boa parte das praças da região, não chegou nem perto da reeleição. E olha que ela tentou compensar com aquele tunel da Rebouças.

Jogar pro povão não é bom? É, claro que é. O Lula que o diga. Mas em São Paulo a coisa funciona de forma diferente. A opinião publica pertence à burguesia. A mídia e os formadores de opinão têm verdadeiro asco à povo. Claro que os homens públicos mais sensíveis podem fazer algo de bom para a Zona Leste. Desde que isso não prejudique o progresso da verdadeira metrópole. Será que eu me fiz entender?

É essa mesma xenofobia que estão fazendo com Itaquera e com o seu povo. NÃO PODE FAZER NADA LÁ. O POVO LÁ É MAL EDUCADO. É LONGE. SÓ TEM LADRÃO. Mas que ladainha chata heim? Essa é grande chance de desenvolver a região. Alguém falou que no tal estádio vai ter um centro de convenções, espaço para eventos e shows? Isso faz girar a economia. Gera emprego e renda. E isso é ruim? Não é bom, mas o povo da Zona Leste não precisa disso, não precisa de conforto. Às vezes acho que quem não mora aqui pensa assim.

Não moro em Itaquera. Mas foi lá que a minha carreira de jornalista começou. Ainda na faculdade, consegui um “emprego” no jornal Itaquera em Notícias. Um jornal de bairro semanal que só fez com que o meu carinho pelo bairro aumentasse. Foram apenas três meses, pois acabei conseguindo um estágio com melhor remuneração. Mas foi uma experiência incrível, e que levarei para sempre. Tive a oportunidade de conhecer melhor a região, de conversar com pessoas de lá (sim, não são todos índios, eles também conversam).

Agora, o que eu queria dizer. O mesmo clube que há 100 anos ousou colocar operários em campo e fez com que times ligado à elite da cidade se retirassem da liga oficial e criassem outra só para eles, pode fazer com que a periferia esquecida e mal tratada experimente um pouco de desenvolvimento. É isso.

5 comentários:

  1. Itaquera é muito longe pra mim, mas isso é só ponto de referência porque eu estou em São Bernardo hahaha igualmente longe para muitas pessoas.

    Mas essa coisa de falar mal de lugares sempre rola, na verdade sempre rola falar mal do que não se conhece. Triste, mas verdade, né?

    =*

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  2. Preconceito, isso que eu diria acerca do que dizem de Itaquera.
    Eu, por exemplo, não lembro de ter ido à Zona Leste em toda a minha vida. Se fui, foi bem rápido. Mas e aí? Qual o problema?
    Assim como podemos ter um estádio no Morumbi ou em Perdizes, por que não um estádio em Itaquera? O que isso significa?

    Eu, morador da Brasilândia, bairro da periferia da Zona Norte, me sinto todos os dias discriminado por conta do lugar em que vivo.
    Aplaudo os moradores da Itaquera, de toda a Zona Leste. Devem saber muito mais do que eu o que é ser discriminado.

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  3. Itaquera é longe? É. Pra mim, porém, é mais perto que o Morumbi. Concordo com muito do que você disse e acho que seria ótimo desenvolver a região, que tem sim, muito problema. Ninguém merece pegar metrô lotado pra assistir jogo da Copa, né? O Brasil todo tem muito que aprender e melhorar. Só acho sacanagem a forma como o estádio foi escolhido, com interesses escusos por trás... Acho que o estádio do Morumbi tinha q melhorar tb, mas já estava escolhido, era só reformar. Enfim, o problema não é o estádio da Copa ser em Itaquera ou na Vila Olímpia, mas a forma como as coisas são feitas.

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  4. Muito bom, Anderson. O seu texto tá mais maduro que o meu. Fiz o meu mais ou menos naquele tom pra dar uma "mexida" nas pessoas mesmo. O mais importante do estádio em Itaquera é a importância simbólica. Pode haver mutretas nas negociações, pode haver corrupção, etc. Como haveria no Morumbi. E isto não é bom. Mas, simbolicamente, as pessoas terem que pisar na ZL (muitos pela primeira vez) pra ver a Copa é histórico. Abs.

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  5. Verdade, poucos fizeram, mas Hoje muitos querem a Gória de serem lembrados.

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