domingo, 27 de março de 2011

Por que não tentar entender?

No dia 2 fevereiro aconteceu mais uma vez. Após outro vexame o Corinthians estava fora Libertadores da América. Fato que se repete todas as vezes em que o Timão disputa o torneio. O que veio depois também faz parte da rotina. Protestos, depedração do patrimônio do clube, carros de jogadores quebrados e boleiros medrosos achando melhor ir jogar bola longe do Parque São Jorge.

O que eu vou dizer agora é polêmico e sei que muita gente não concordará. Sou contra qualquer tipo de violência. Por isso não acho que exista justificativa para o que foi feito. Mas devo dizer que entendo perfeitamente as motivações de quem fez isso. E o que eu estou dizendo nao é contraditório. Vou tentar explicar.

O Corinthians, na grande maioria dos casos é única forma que muitos de nós corinthianos temos para nos sentirmos importantes. É a maneira que essas pessoas encontram para fazer parte de alguma coisa grande. A expressiva maioria é pobre, excluída. São moradores da periferia e que trabalham em sub empregos. Mas são, sobretudo, orgulhosos de serem corinthianos. E não, eles não se sentem apenas torcedores do Corinthians, eles se sentem parte dele. Em muitos casos isso é tudo que eles têm.

Ou seja, na vitória eles (confesso que eu também) acreditam que têm participação nisso. O simples fato de pagar por um ingresso e ir cantar no estádio faz com que eles se sintam parte integrante do clube. Da mesma forma, em uma derrota como esta, eles sabem que fizeram a parte deles, mas como os jogadores não fizeram, na cabeça deles, devem ser punidos. Eles se sentem desrespeitados, zombados, usados. Vejam bem, não estou defedendo a violência, estou tentando explicar.

Se o cidadão que ganha milhões e entra em campo com o manto sagrado entender isso, sinceramente não espero que aconteça, é bem capaz que não vejamos mais este tipo de manifestação. Enquanto isso, temos que entender que isso é Corinthians. Não há como separar o povo dele e ele seguirá sendo a coisa mais importante da vida de muitas pessoas.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Eu e o Carnaval

Nasci três dias antes do início do Carnaval de 1982. Ou seja, devo ter dado minhas primeiras olhadas no mundo bem no meio da folia. Porém, nunca gostei desta festa. Pelo contrário. Cresci abominando tudo que estivesse relacionado à tal Folia do Momo. Primeiro porque eu era radical, não gostava de samba* e para mim, tudo ali era sinônimo de samba. Depois porque me parecia tudo bem confuso, já que o que eu via na TV eram aqueles desfiles enfadonhos, chatíssimos com carros surreais e histórias malucas, além de é claro de mulheres nuas sem nenhuma razão lógica.

*(Na verdade descobri que não é bem de samba que eu não gosto é de pseudos sambas que fazem uma caricatura bem torta da nossa cultura)

Pois bem, assim passaram-se 29 anos. Neste meio tempo tenho histórias bem ruins de Carnaval para contar. Programas de índio com direito a trânsito e bexigas d'água (?) em Praia Grande, bailes tradicionais de São Paulo com direito a gastar mais dinheiro do que eu tinha, dias em casa mofando até chegar a quarta-feira de cinzas, assistir os desfiles no sambódromo (com um par de ingressos ganho, pois não pagaria por isso). Enfim, nenhum deles me deixou realmente feliz.

Me lembro de um bem engraçado. Eu devia ter 19 anos e estava no auge da minha rebeldia, tinha cabelos compridos e usava roupas pretas e camisas de flanela xadrez. Na ocasião resolvi que iria aproveitar o feriado de Carnaval em algum lugar, qualquer lugar, que tocasse rock. Lá fui eu, peguei o carro, comprei um garrafão de cinco litros de vinho e saí angariando voluntários que quisessem se aventurar comigo. No final consegui três! Bom, não estaria sozinho naquela empreitada!

Fomos ao primeiro ao endereço que mais costumávamos frequentar. Ao chegar um aviso bem grande na porta dizendo que não abririam no Carnaval. Então fomos a um outro que não visitávamos há tempos, mas que também sempre recebia bandas boas...chegando lá tudo fechado. Não tinha nem aviso. Afinal, era obvio de que nada estaria aberto naquele dia, só eu não sabia disso. Então um dos meus amigos teve uma ideia de um lugar que era beeem longe dali. E lá fomos nós.

Importante lembrar que o tal garrafão de vinho estava sendo paulatinamente esvaziado por nós.

Chegando ao tal local estava fechado, claro. Aceitamos mais uma brilhante ideia e fomos novamente atravessar a cidade atrás de uma folia rock and roll. Claro que esta última opção também estava de portas fechadas. Mas antes de chegar lá é claro que eu me perdi. E muito. Se até hoje me perco em São Paulo, imagina naquela época? Enfim. Quando vimos já era umas 2h30 da manhã, estávamos bem longe de casa e já sem vinho. Voltamos pra casa para dormir e esquecer de vez essa estúpida ideia de curtir o Carnaval.

Pois bem. Disse tudo isso para afirmar que enfim, 29 anos depois, eu consegui me divertir muito em um Carnaval! E tem mais. Eu estava trabalhando. Há tempos eu já pensava em conhecer o Carnaval de Recife ou o de Ouro Preto, que me pareciam ser festas de rua, feitas pelo povo, sem a segregação dos abadás ou o mundo irreal e a competição das escolas de Samba.

Fui escalado para cobrir o Carnaval da agora querida Recife. Já tinha visitado a cidade duas vezes. Sempre a trabalho, mas mesmo assim conheci muito pouco. Desta vez seriam seis dias e muita folia prevista. A recepção não poderia ter sido melhor (agradeço a Rachel e Alessandra por todo carinho e cuidado que tiveram com o grupo). A companhia dos colegas de outros veículos que estiveram lá também foi muito agradável. O grupo foi bem entrosado e tranquilo, o que ajudou muito.

O fato é o seguinte: o Carnaval de Recife resgata a verdadeira razão de ser desta festa. O povo na rua, fantasiado e feliz. Quando eu digo povo, eu digo todo mundo mesmo. Para se ter uma ideia, o Galo da Madrugada reúne 1,5 milhão pessoas e a cidade tem 1,7 milhão de habitantes. As fantasias são uma atração à parte, a criatividade dos foliões é demais, uma atração a parte.

Isso sem contar que a cultura local é muito valorizada. Nada de importar mega-sucessos (não ouvi uma vez sequer o tal do Tchubirabirom, graças a Deus). O que se ouve nas ruas e nos shows também é frevo, muito frevo! Aliás, passei a gostar disso. Até hoje não paro de cantarolar alguns, como Recife Voltei (a parte que eu mais gosto é aquela que diz: tomar umas e outras e cair no paço) e aquela melodia do Hino do Vassourinhas, que é o equivalente a uma injeção coletiva de adrenalina, pois quando toca todo mundo sai dançando, gritando e pulando. Uma coisa maluca.

Claro, eu estava trabalhando. Toda essa admiração estará na matéria que acabou de ser escrita e sai na próxima edição do Mercado & Eventos, jornal que eu trabalho e que é voltado para profissionais de turismo. Mas confesso, achei isso pouco. Por isso escrevi aqui a minha singela, mas sincera, homenagem à terra do frevo e do maracatu. De uma coisa tenho certeza, o Carnaval do Recife não sairá jamais do meu coração. Quem sabe na sexta-feira de Carnaval do ano que vem eu não esteja chegando no aeroporto cantando Voltei Recife, foi a saudade que me trouxe pelo braço...