Nasci três dias antes do início do Carnaval de 1982. Ou seja, devo ter dado minhas primeiras olhadas no mundo bem no meio da folia. Porém, nunca gostei desta festa. Pelo contrário. Cresci abominando tudo que estivesse relacionado à tal Folia do Momo. Primeiro porque eu era radical, não gostava de samba* e para mim, tudo ali era sinônimo de samba. Depois porque me parecia tudo bem confuso, já que o que eu via na TV eram aqueles desfiles enfadonhos, chatíssimos com carros surreais e histórias malucas, além de é claro de mulheres nuas sem nenhuma razão lógica.
*(Na verdade descobri que não é bem de samba que eu não gosto é de pseudos sambas que fazem uma caricatura bem torta da nossa cultura)
Pois bem, assim passaram-se 29 anos. Neste meio tempo tenho histórias bem ruins de Carnaval para contar. Programas de índio com direito a trânsito e bexigas d'água (?) em Praia Grande, bailes tradicionais de São Paulo com direito a gastar mais dinheiro do que eu tinha, dias em casa mofando até chegar a quarta-feira de cinzas, assistir os desfiles no sambódromo (com um par de ingressos ganho, pois não pagaria por isso). Enfim, nenhum deles me deixou realmente feliz.
Me lembro de um bem engraçado. Eu devia ter 19 anos e estava no auge da minha rebeldia, tinha cabelos compridos e usava roupas pretas e camisas de flanela xadrez. Na ocasião resolvi que iria aproveitar o feriado de Carnaval em algum lugar, qualquer lugar, que tocasse rock. Lá fui eu, peguei o carro, comprei um garrafão de cinco litros de vinho e saí angariando voluntários que quisessem se aventurar comigo. No final consegui três! Bom, não estaria sozinho naquela empreitada!
Fomos ao primeiro ao endereço que mais costumávamos frequentar. Ao chegar um aviso bem grande na porta dizendo que não abririam no Carnaval. Então fomos a um outro que não visitávamos há tempos, mas que também sempre recebia bandas boas...chegando lá tudo fechado. Não tinha nem aviso. Afinal, era obvio de que nada estaria aberto naquele dia, só eu não sabia disso. Então um dos meus amigos teve uma ideia de um lugar que era beeem longe dali. E lá fomos nós.
Importante lembrar que o tal garrafão de vinho estava sendo paulatinamente esvaziado por nós.
Chegando ao tal local estava fechado, claro. Aceitamos mais uma brilhante ideia e fomos novamente atravessar a cidade atrás de uma folia rock and roll. Claro que esta última opção também estava de portas fechadas. Mas antes de chegar lá é claro que eu me perdi. E muito. Se até hoje me perco em São Paulo, imagina naquela época? Enfim. Quando vimos já era umas 2h30 da manhã, estávamos bem longe de casa e já sem vinho. Voltamos pra casa para dormir e esquecer de vez essa estúpida ideia de curtir o Carnaval.
Pois bem. Disse tudo isso para afirmar que enfim, 29 anos depois, eu consegui me divertir muito em um Carnaval! E tem mais. Eu estava trabalhando. Há tempos eu já pensava em conhecer o Carnaval de Recife ou o de Ouro Preto, que me pareciam ser festas de rua, feitas pelo povo, sem a segregação dos abadás ou o mundo irreal e a competição das escolas de Samba.
Fui escalado para cobrir o Carnaval da agora querida Recife. Já tinha visitado a cidade duas vezes. Sempre a trabalho, mas mesmo assim conheci muito pouco. Desta vez seriam seis dias e muita folia prevista. A recepção não poderia ter sido melhor (agradeço a Rachel e Alessandra por todo carinho e cuidado que tiveram com o grupo). A companhia dos colegas de outros veículos que estiveram lá também foi muito agradável. O grupo foi bem entrosado e tranquilo, o que ajudou muito.
O fato é o seguinte: o Carnaval de Recife resgata a verdadeira razão de ser desta festa. O povo na rua, fantasiado e feliz. Quando eu digo povo, eu digo todo mundo mesmo. Para se ter uma ideia, o Galo da Madrugada reúne 1,5 milhão pessoas e a cidade tem 1,7 milhão de habitantes. As fantasias são uma atração à parte, a criatividade dos foliões é demais, uma atração a parte.
Isso sem contar que a cultura local é muito valorizada. Nada de importar mega-sucessos (não ouvi uma vez sequer o tal do Tchubirabirom, graças a Deus). O que se ouve nas ruas e nos shows também é frevo, muito frevo! Aliás, passei a gostar disso. Até hoje não paro de cantarolar alguns, como Recife Voltei (a parte que eu mais gosto é aquela que diz: tomar umas e outras e cair no paço) e aquela melodia do Hino do Vassourinhas, que é o equivalente a uma injeção coletiva de adrenalina, pois quando toca todo mundo sai dançando, gritando e pulando. Uma coisa maluca.
Claro, eu estava trabalhando. Toda essa admiração estará na matéria que acabou de ser escrita e sai na próxima edição do Mercado & Eventos, jornal que eu trabalho e que é voltado para profissionais de turismo. Mas confesso, achei isso pouco. Por isso escrevi aqui a minha singela, mas sincera, homenagem à terra do frevo e do maracatu. De uma coisa tenho certeza, o Carnaval do Recife não sairá jamais do meu coração. Quem sabe na sexta-feira de Carnaval do ano que vem eu não esteja chegando no aeroporto cantando Voltei Recife, foi a saudade que me trouxe pelo braço...
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ResponderExcluirEu não sei o que comento primeiro... o fato que samba não é pagode e nem estas coisas que dizem ser samba... samba msm é agradável.... ou quem sabe comentar o tal garrafão de vinho - sangue de boi? - hahahaha ou talvez o quão engraçado é correr atrás de rock no carnaval... AEEE!!! Indo contra a corrente sempre!!!
ResponderExcluirAAAAAH! Vc se perde?? Bem vindo ao clube!!! Meu sobrenome é perdida! Acho que isso ficou claro quando fiz vc me esperar na Praça pq não lembrava onde era o Bar Brahma, só na famosa esquina da Ipiranga com a São João....
Preciso comentar a parte do grupo?? Não né... acho que deixamos claro esta parte... eu sei, eu sei.... devia ter ido... HAHAHAHAHAHAHAHAHA morri... Tchubirabirom não! Meu, já tinha esqueci essa porra.....
Aaaaaaah que punitinho quer voltar pro Recife... então, quem sabe ano que vem eu não vou, se bem que vai que...... hahahahahahaha
=)
Anderson, vc como sempre escreve maravilhosamente bem no seu blog. É uma delícia de ler. Fiquei muito feliz que você tenha realmente gostado da folia no Recife e queira voltar. É tão bom saber que um visitante foi embora feliz... melhor ainda é saber que você gostou da nossa receptividade. Te digo que foi um prazer recebê-lo. Espero a sua próxima visita. beijos.
ResponderExcluirMuito legal, Anderson!
ResponderExcluirEu também nunca me dou bem no carnaval. Mal vejo a hora da quarta-feira de cinzas chegar para a vida voltar ao normal. Espero ter um carnaval decente antes dos 29 anos. rsrs
Ahhhh que bom que tu gostou daqui. Até pq, como diz a música: aqui tem "o Carnaval melhor do meu Brasil..." rsrssr. Muito obrigada pela referência no blog. Volta logo, volta sempre. Beijos
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